Desde que conhecemos Marcos Boi em Ouro Preto, MG, durante o evento Montanha de Historias, ficamos impressionados com seu trabalho e sua banda. Queríamos fazer um videoclipe com uma de suas composições. A música escolhida foi "Os Vícios Teus". O material já está no ar. Aproveite também para conhecê-lo melhor nesta entrevista.
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Marcos Boi, nome artístico de
Marcos Renato da Silva, natural de Mairinque-SP e radicado desde 1996 em
Sorocaba-SP, Iniciou os estudos musicais aos seis anos de idade em 1.976.
Estudou piano e teoria musical, violino, guitarra e violão com mestres como
Ivanildo Marques, Regina Capitão, Luiz Beneddetti entre outros. Com essa
bagagem procurou prosseguir de forma autodidata. Retornou aos estudos formais
no Conservatório Dramático e Musical Carlos de Campos, de Tatuí-SP, onde
estudou teclado, violino, concluiu o curso de teoria e harmonia funcional,
passando por professores como Adriano Machado, Cezar Valezim, Cidinha Holtz,
etc.
Integrou
diversas bandas de rock, jazz e blues, como a Banda Deciberros, Marcos Boi
& Mad Dog Blues, Duo Blues & Afins com a cantora Márcia Mah, Villa
Blues, Trio Tom Jazz. Compôs e gravou com parceiros a trilha sonora do vídeo
“Carnaval”, de José Otávio Lara, e o filme documentário “Porque Lutamos” de
Fernanda Ikedo. Compôs e tocou em diversas trilhas de teatro, como o musical
“Bolero & roll”, de Benê de Oliveira. Foi side-man das cantoras Misty,
Márcia Mah, Marinete Marcato, Mirella Zaccanini, etc. Acompanha o contador de
histórias Zé Bocca, apresentando-se nas principais capitais brasileiras e
interior.
Atua
como músico de estúdio e gravou participações em discos de vários artistas da
região, como “Se entrega cafona”, Villa Blues, etc
Atua
na noite em apresentações solo acompanhando-se ao violão com repertório de MPB
e blues.
*
"arranhei boa parte
da coleção
de discos de meu pai"
Cinema Possível – Como foi que a música surgiu na tua vida?
Marcos Boi – É uma
pergunta difícil, porque ela sempre esteve comigo. Ouço histórias que desde
muito pequeno adorava os discos de vinil do meu pai e seu toca discos. Tipo,
logo que aprendi à andar. Inclusive, derrubei o toca discos dele, que era bem grande, encima
de mim. Arranhei boa parte da coleção dele. E nem lembro disso. Era muito pequeno, são histórias que me
contam. Também tem uma história que eu gosto muito: Eu morava em Mairinque,
interior de São Paulo, terra onde nasci e vivi até os 26 anos de idade, e que é
minha referência no mundo. Ainda é uma cidade pequena, e nos anos setenta era
menor ainda, e muito pacata, por isso as crianças eram bem soltas. Dizem que na
casa em frente à que eu vivi na infância, tinha uma mulher evangélica que
tocava órgão elétrico. Eu atravessava a rua, chegava em silêncio e ficava
quietinho ouvindo ela tocar, ela nem me percebia, só depois que parava de
tocar; Isso com três anos de idade. Com seis anos disse ao meu pai que queria
tocar um instrumento, e ele rapidamente me arranjou um professor. Foi paixão à
primeira nota. Nunca mais parei.
CP – O que te inspira
a fazer músicas?
MB – Eu componho relativamente pouco, me realizo como
intérprete e instrumentista. Mas quando componho, creio que as paixões de todos
os tipos são as que me inspiram. O amor, seja por uma mulher, por um filho,
pela vida; te tiram do eixo, mas dão sentido ao mesmo tempo. Isso me inspira.
*
"Somos amigos de verdade,
o que deixa tudo mais fácil,
inclusive na
hora da crítica".
CP – Fale um pouco da tua parceria com a MadDog
Blues.
MB –Nem diria que é uma parceria, é minha banda mesmo. A
banda que estava na minha cabeça antes de existir. E já estamos juntos há
quinze anos! Aos trancos e barrancos,com altos e baixos, mas juntos. E os caras
são músicos incríveis, com muita personalidade, e minhas grandes influências. Somos
amigos de verdade, o que deixa tudo mais fácil, inclusive na hora da crítica,
da cobrança. Amamos a estrada, a música, o risco do improviso, a certeza do
arranjo. Posso me realizar como artista nesse projeto. É isso.
Artistas e técnicos, colaboradores do projeto Cinema Possível numa foto durante as gravações do videoclipe de Marcos Boi, no bar exóticos, locação, em Cabo Frio - RJ. |
CP – Quais são tuas grandes influências no blues,
na tua percepção, quem, hoje está fazendo este tipo de música, com qualidade,
no Brasil?
MB – Descobri o blues pelos grandes artistas do blues
urbano, principalmente B.B. King e o pessoal de Chicago. Mas sempre pesquisei
muito, e hoje não tem uma vertente que eu prefira. Estou apaixonado pelo blues
rural de Robert Johnson, mas, mais do que pela música, sou apaixonado pela
cultura do blues, sua história de resistência e beleza.
O Brasil é um lugar onde o blues se deu muito bem. Não estou
falando da grande mídia, é claro, nesse aspecto é praticamente um desconhecido.
Mas a natureza passional e antropofágica do brasileiro foi de encontro ao que
compõe o blues. Porque o blues nasceu da maneira mais antropofágica possível:
Um povo tirado da sua terra, escravizado, colocado nas piores condições em uma
terra com outro clima, outra língua, outra comida, outro mundo! Era necessário
para a sobrevivência pura e simples, mas também para a sobrevivência da alma,
absorver tudo o que estava à sua volta, devorar e criar algo em que se
reconhecesse. O jazz e o blues tem como parte da sua estrutura a improvisação
dos músicos. E o que era a vida desse povo senão um grande improviso?
*
"Mas a natureza passional
e antropofágica do
brasileiro foi de encontro
ao que compõe o blues".
Por isso, os músicos brasileiros são às vezes mais
reconhecidos no meio do blues norte-americano do que aqui no Brasil. Temos
grandes expoentes, da velha geração, como Nuno Mindelis, Blues Etílicos, André
Christovam, etc, ao lado de uma geração mais nova e com muita qualidade, como
Igor Prado, que acabou de ganhar um importante prêmio nos EUA. Mas quero
destacar isso com a MadDog: A grande maioria dos blueseiros brasileiros não
compõe em português, excessão para André Christovam. E é questão de honra pra MadDog compor somente
em português, e de maneira orgânica, verdadeira, com qualidade.
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Marcos Boi e MadDog Blues: Marcos Boi, guitarra, violino e voz. Teclado: João Leopoldo. Contrabaixo: Mauricio Toco, bateria Alê Zuliani. |
CP – O que você
recomenda para os jovens que querem se dedicar ao blues? Por onde começar?
MB – Dominar seu instrumento é muito importante, é básico,
indispensável. Mas, para fazer blues, é preciso botar as vísceras pra fora,
tocar com o coração na ponta dos dedos. É uma expressão corajosa da alma
humana, suas fraquezas e grandezas. Como diriam os grandes compositores do
gênero: “blues is a feeling”.
CP – Faça um balanço
de sua carreira, tipo, lembranças, momentos vividos que você gostaria que os
leitores do cineclipe soubessem.
MB – As parceiras
são sempre lembranças muito boas, porque são relações humanas acima de tudo. E
nesse ponto, sou privilegiado. Trabalho com muita gente e universos
diferentes. Já tenho uma parceira de
mais de quinze anos com o contador de histórias Zé Bocca, e através dessa
parceira, pude conhecer pessoas e lugares que passaram a ser a história da
minha vida. Trabalho com um grupo que faz música para crianças, lançamos o CD
no ano passado e produzimos e tocamos com frequência.
E a estrada, essa paixão dos blueseiros. Dariam livros e
livros para contar essas histórias, das mais engraçadas às mais
constrangedoras. Mas destaco a temporada em Ouro Preto, na programação paralela
do Montanha de Histórias em 2010. Foi muito especial tudo aquilo. A cidade, as
pessoas que conheci, as pessoas que reencontrei, o convívio com a banda. Foi
apaixonante.
*
"Sou um cara
que quer viver
a vida de maneira
simples e intensa".
CP – Quem é Marcos
Boi, por Marcos Boi.
MB - Um cara que quer viver a vida de maneira simples e
intensa, que quer conviver com a honestidade nas suas mais variadas
manifestações, ser honesto consigo mesmo, ser honesto com os outros, viver com
minhas filhas, com meus amigos, fazer música, viver o amor de maneira plena, e
cair na estrada até o fim da vida.
Clique para ver o Videoclipe: "Os Vícios Teus".
Veja making Of - "Os Vícios Teus"